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CALENDÁRIO BIBLICO

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 Calendário Bíblico

 O Amadurecimento da Cevada e a fixação do Ano Novo

 

A Bíblia indica que o primeiro mês do ano coincide com a primeira lua nova depois de que a cevada estiver madura (Hebraico: Aviv). Isto é chamado de o mês de “Aviv” e é o mês em que abandonamos o Egito. No dia 15 deste mês começa a Páscoa*1 (Êxodo 12:2, Êxodo 13:4, Êxodo 23:15).

Em alguns anos, temos que esperar um mês lunar extra (chamado mês “bissexto”) para que a cevada esteja madura. Os Rabinos, no tempo em que não tinham acesso a terra de Israel, desenvolveram um sistema para aproximar-se ao método de maduração da cevada. Os Rabinos adotaram um ciclo de 19 anos que acrescenta a cada segundo ou terceiro ano um ano “bissexto” (ano de 13 meses lunares), tendo um total de sete anos “bissextos” distribuídos ao longo do ciclo de 19 anos. Por outro lado, até o século 18, os bnei Mikrá do Egito, Síria, e Israel enviavam observadores ao longo da terra de Israel para examinar o estado da cevada. Os bnei Mikrá que viviam em países distantes da Terra de Israel realmente eram incapazes de seguir Aviv; no entanto, o reconheciam como o verdadeiro calendário. Quando o viajante ocasional do Oriente Médio atravessava estas distantes comunidades bnei Mikrá, perguntava a respeito de Aviv e ajustavam as festas de acordo com a informação subministrada nesse ano. Também declaravam que em quanto suas comunidades fossem abençoadas com a volta para a Terra de Israel, voltariam imediatamente a seguir e guardar as festas de acordo com o método Bíblico de Aviv.

De fato, até o 2º século d.C. os Rabanitas continuaram guardando o calendário de Aviv. Mesmo que os Rabanitas complementavam a observação da cevada com seus cálculos astronômicos do equinócio (que eles aprenderam de astrólogos) e com outros fatores - não Bíblicos - cujo uso os bnei Mikrá objetam, no entanto os escritos revelam que eles reconheciam que a cevada tem uma importância especial na hora de intercalar o ano. Uma Brayta (século 2º d.C. de origem Tanaitica) citada no Talmude Babilônico diz o que segue:

 

Nossos Rabinos ensinaram: O ano é intercalado baseado em três coisas: em Aviv, nas frutas das árvores, e no equinócio. Baseado em duas delas o ano é intercalado, mas baseando-se apenas em uma o ano não é intercalado. E quando Aviv é uma delas todos estamos satisfeitos. (Sanhedrin Bavli 11b)

Outra Brayta relata:

Nossos Rabinos ensinaram: O ano é intercalado baseado em [Aviv] em três regiões: Judéia, Transjordânia, e Galiléia. Baseado em duas delas o ano é intercalado, mas baseado em somente uma delas o ano não é intercalado. E quando a Judéia é uma delas todos estamos satisfeitos porque a Oferenda do Omer [A Oferenda do feixe de Cevada] só pode vir da Judéia. (Sanhedrin Bavli 11b)

Assim, inclusive a literatura Rabínica da ênfase a importância do grau de amadurecimento da cevada na hora de determinar o começo do Novo Ano.

 

La Lua Nova

 

Uma característica dos bnei Mikrá observantes sempre tem sido seu cumprimento da prática Bíblica de usar o método físico de visão da lua para declarar os novos meses e fixar as datas das festas. Originalmente os Rabanitas também seguiam este calendário e é discutido seu alcance no Talmude (veja Mishnah Rosh Hashanah). Os Rabanitas continuaram com o método de observar a aparição da Lua Nova até pelo menos o 2º Século d.C., mas gradualmente o substituíram com os primitivos cálculos com os que tentavam se aproximar ao ciclo lunar.*2 Em contraste, os bnei Mikrá permaneciam fieis ao verdadeiro calendário Bíblico e continuaram seguindo o método de observação da Lua Nova ao longo da idade media. O compromisso dos bnei Mikrá com o calendário Bíblico estava tão inculcado em sua consciência que tinha se incorporado um juramento solene a sua cerimônia de casamento "guardar os tempos Santos ordenados segundo a visibilidade da Lua Nova e a constatação de Aviv (maduração das espigas da cevada) na Terra de Israel". Do mesmo modo, nas Grandes Festas, a congregação dos bnei Mikrá declarava a verdade do calendário em relação à Lua Nova e Aviv.

A Bíblia indica claramente que a lua determina o calendário Bíblico. A evidência disto vem do Salmo 104:19 em que é declarado: "Fez a lua para os Mo'adim [os tempos indicados]." Guardar as festas em seu momento correto é um mandamento direto da Torah, como está escrito: "Estes são os Mo'adim [os tempos indicados] de YHWH, as reuniões santas que convocareis nas datas indicadas [Mo'adam]" (Levítico 23:4). Durante a maioria dos serviços nas festas b'nei Mikrah, este versículo é lido em voz alta pelo hazzan e é repetido por toda a congregação expressando a adesão dos bnei Mikrá a este claro mandato bíblico.

Na época em que os Israelitas não tinham acesso diário a Terra de Israel, os Rabinos desenvolveram um sistema para calcular com aproximação a nova aparição da lua. Hoje, no entanto, agora que nós temos acesso à Terra de Israel, podemos retomar o método de avistamento da lua em vários lugares de Israel. Estes novos avistamentos da lua revelam que os cálculos Rabínicos para o calendário são constantemente incorretos.

Quando se pergunta por que não mudam seu método de determinar a lua nova pelo real método de avistamento lunar, os Rabinos freqüentemente respondem que só o Sanhedrin*3 pode declarar uma lua nova.*4 Sendo que hoje não temos o Sanhedrin, eles vão mais além a suas afirmações afirmando que devemos seguir os cálculos Rabínicos que têm predito as luas novas. Esta é a idéia apresentada no seguinte artigo do Chabad, o movimento Judaico, com respeito ao começo da Páscoa:

... se existisse um Sanhedrin hoje, o próximo Dia de Lua Nova de Nisan não cairia no domingo [no dia 25 de março de 2001], porém na terça-feira [no dia 27 de março de 2001], sendo que a primeira ocasião possível para ver a Lua Nova será na segunda-feira [noite].

(Extraído de uma entrevista com o experto em Lua Nova o Dr. Roy Hoffman da Universidade Hebraica de Jerusalém em Tse'irei Chabad [o Movimento Chabad Juvenil], Sichat Hashavua, Parashat Vayakhel-Pekudei, 5761 [Assunto No. 742] p.4)

Muito interessante, o Dr. Hoffman tinha razão e a lua nova foi vista na segunda-feira pela noite quando ele (e os bnei Mikrá) tinham predito. Então, os bnei Mikrá observantes celebraram o inicio da Páscoa na segunda-feira de noite, enquanto que Os Rabanitas a celebraram no sábado à noite - dois dias antes. As implicações disto são serias sendo que nos últimos dias de Páscoa baseados na visibilidade da lua, os Rabanitas estavam comendo pão fermentado! É por este motivo que os bnei Mikrá não podem adotar o calendário Rabínico e devem continuar usando o método de observação da lua nova.*5

Mesmo que o calendário dos Rabanitas serviu para uma necessidade das comunidades judaicas distantes de Israel em um momento em que os judeus estavam desterrados de Israel, agora devemos, sendo que temos acesso a Terra de Israel, voltar ao método de observação física da cevada e da lua.

 

Shavuot

 

Outro problema significativo que divide aos Rabanitas e os bnei Mikrá em relação ao calendário Bíblico é a localização de Shavuot - A Festa das Semanas. Deus nos disse que contássemos 50 dias (com Shavuot que é o 50º dia) a partir do momento da Páscoa. Os bnei Mikrá e os Rabanitas concordam neste ponto. Contudo discordam sobre quando se inicia realmente a contagem. A Torah declara o seguinte:

“Contareis sete Shabbats completos [em Hebraico: Shabbatot] do dia que seguir ao sábado [em Hebraico: Shabbat], desde o dia em que oferecestes o Omer [Feixe] de oferta de movimento. Até o dia seguinte ao sétimo Shabbat [Hebraico: Shabbat] contareis cinqüenta dias... Neste mesmo dia convocareis uma santa reunião." (Lev. 23:15-16, 21).

Os bnei Mikrá crêem que o Shabbat ao que é feito referencia na primeira linha é o Shabbat (da noite de sexta-feira até a noite de sábado) com o qual se conclui a semana. Eles acreditam que a contagem dos cinqüenta dias até o inicio de Shavuot é o primeiro domingo durante a Páscoa, isto é, o dia seguinte depois do Shabbat.*6 Os Rabinos e os Fariseus, anteriores a eles, acreditam que a palavra “o Shabbat” na primeira linha se refere ao primeiro dia da Festa de Pães Ázimos, mesmo a palavra “o Shabbat” em outras linhas será traduzido como semanas. Assim, segundo a contagem Rabínica, Shavuot sempre cai no dia 6 de Sivan que é 50 dias depois do primeiro dia da Festa dos Pães Ázimos. Para os Rabanitas o dia da semana em que começa Shavuot varia de ano em ano. Por outro lado, os bnei Mikrá sempre celebram Shavuot no domingo, sendo que este é o dia depois do sétimo Shabbat. Para os bnei Mikrá a data de Shavuot varia de ano em ano.

 

Seguidamente estão os clássicos argumentos bnei Mikrá sobre a localização de Shavuot:

 

1) Shavuot é a única festa da Bíblia Hebraica da qual não é fixada uma data. Em troca não é ordenado contarmos os dias até Shavuot. Se Deus quisesse que nós celebrássemos Shavuot na mesma data todos os anos, teria ordenado na Torah que celebrássemos Shavuot em determinada data, tal e como fez com as demais festas. Só tem sentido que não fosse dada nenhuma data para Shavuot se a data variasse todos os anos devido a que o período de tempo especificado partisse de um ponto não fixo.

 

2) A interpretação Rabínica requer que a primeira aparição da palavra “o Shabbat” se refira ao primeiro dia da Festa de Pães Ázimos. Mesmo que teoricamente pudesse estar referindo-se ao primeiro dia de Páscoa, sendo que o trabalho é proibido para este dia, a Torah nunca descreve este dia como um “Shabbat,” com é feito com respeito à Yom Kippur, nem tampouco é descrito como um “Shabbaton”; como é feito ao referir-se à Yom Teruah, o primeiro dia de Succot, e à Shemini Atzeret (o dia depois do sétimo dia de Succot). Além disso, se iniciarmos a contagem a partir do primeiro dia de Páscoa, o 50º dia não seria “o dia seguinte depois do sétimo Shabbat” (Levítico 23:16), sendo que o 49 dia não é um Shabbat nem é um dia de descanso, inclusive segundo a tradição Rabínica, ao menos que o 49º dia caia no Shabbat.

Além disso, a Escritura diz "no Dia seguinte depois do Shabbat" com o artigo definido, indicando que a Escritura faz referencia ao Shabbat de Gênesis como está escrito uns poucos versículos antes, "ele [o 7º Dia] é um Shabbat dedicado a YHWH onde quer que habiteis." (Levítico 23:3). Se a Escritura se referisse a um dia distinto, ao geralmente conhecido como Shabbat, teria o mencionado especificamente.

 

3) Insistindo no argumento, os Rabinos traduzem a palavra “o Shabbat” na primeira vez que ela aparece como "festa"- afirmando que se refere ao primeiro dia da Festa de Pães Ázimos - e a segunda e terceira vez que aparece o termo “o Shabbat” como “semana.” Portanto traduzem o versículo como:

Contareis sete semanas completas (em Hebraico: Shabbatot) do dia que segue ao sábado (em Hebraico: Shabbat), do dia em que oferecestes o Omer [o Feixe] da oferta de movimento. No dia seguinte da sétima semana (em Hebraico: Shabbat) contareis cinqüenta dias... Neste mesmo dia convocareis uma reunião santa. (Levítico 23,15-16.21)

Se esta é a tradução/interpretação correta, como os Rabanitas afirmam, encontramos que no primeiro caso o significado de "Shabbat" é “Festa” e nos outros dois casos seu significado é uma semana que contem nela um Shabbat. Esta é uma interpretação insustentável. Sendo que a Torah menciona "Shabbat" duas vezes na mesma frase e não deveria ter dois significados diferentes ao menos que a Escritura indicasse explicitamente qual é.

Por estes motivos, os bnei Mikrá celebram sempre Shavuot no domingo, no 50º dia começando com o domingo que cai durante a Festa de Páscoa.

 

Yom Teruah - o Rosh Hashanah Rabanita

 

O calendário Bíblico/ bnei Mikrá também difere do Calendário Rabínico na observação do Novo Ano Judaico. O calendário Rabanita situa o inicio do ano –“Rosh Hashanah”– em uma festa a qual a Bíblia se refere como a Yom Teruah (Dia de Aclamação), que cai no primeiro dia do Sétimo mês.*7 Como acabamos de discutir, os bnei Mikrá celebram o Ano Novo no mês da Festa dos Pães Ázimos. Sendo que a Torah afirma: "Este mês será para vós o principal entre os meses; será para vós o primeiro dos meses do ano" (Êxodo 12:2). Depois desta explícita declaração, a Torah procede a descrever a cerimônia do Sacrifício de Páscoa que tem que cair neste Primeiro mês. Da mesma forma, Levético 23 e Números 28 mencionam as festas e em ambas as passagens são descritas o Sacrifício de Páscoa no Primeiro mês e Yom Teruah no Sétimo mês.

Os bnei Mikrá não comemoram Rosh hashahe sim oYom Teruah no inicio do sétimo mes. Isto é porque não há nenhum mandamento que ordene isto este dia e um dia de aclamação Números 23:21  em Números 10:5-6 onde nos é dito para fazermos soar trombetas prateadas.

É interessante que cinco versículos para frente Deus ordena fazermos soar*10 as trombetas prateadas na Lua Nova, isto é, o primeiro dia de cada mês (veja Números 10:10). O que claramente se deduz de todos estes versículos é que a palavra Teruah, mencionada nesta ocasião após a palavra dia, é um termo geral que descreve um grande barulho feito tanto pelo corno de um Carneiro, como por uma trombeta prateada, por címbalos, ou inclusive por uma congregação orando a Deus.

Sendo que é feito soar um corno sob a forma de uma trombeta em cada primeiro dia de mês, devemos perguntar por que Yom Teruah, o primeiro dia do Sétimo Mês é deixado de lado como uma santa assembléia. Infelizmente, a própria Torah não nos diz por que este dia é deixado de lado como um Mo'ed (Tempo Indicado).  No entanto, sendo que é o inicio do mês em que Yom Kippur e Succot ocorrem, sua importância resulta evidente. Isto parece ser um dia nacional para que os Israelitas se prepararem para as próximas festas. Em uma sociedade agrícola, Succot, uma festa de agradecimento a Deus pela colheita e pedindo uma colheita saudável para o próximo ano, é de suma importância. Os bnei Mikrá sempre tiveram Yom Teruah como um dia nacional de oração e preparação para as próximas festas do Sétimo Mês.

 

*1 A palavra Pesach, normalmente traduzida como Páscoa, se refere exclusivamente ao Sacrifício de Páscoa. A festa conhecida como Páscoa, em Português, é mencionada na Bíblia como Hag Hamatzot, a Festa dos Pães Azimos. Para evitar confusões, quando nos refiramos à festa neste trabalho usaremos o termo “Páscoa” ou então “Festa dos Pães Ázimos”, e para referir-nos ao sacrifício usaremos o termo “Sacrifício de Páscoa”. 

*2 Hoje em dia pode ser feita predições muito mais exatas. 

*3 O Sanhedrin era um conselho de anciãos no antigo Israel. 

*4 Ironicamente, os Rabinos afirmam que somente o Sanhedrin pode declarar uma lua nova, quando, ao mesmo tempo, são eles que instituíram um sistema que arbitrariamente (que ninguém se sinta ofendido) declara as luas novas. 

*5 Inclusive os bnei Mikrá pensavam, em esperar a aparição física da lua nova para determinar suas festas, sendo que é conhecido com um grau de certeza muito alto quando a lua nova vai ser visível na maioria dos meses, o qual torna fácil preparar de antemão as festas. 

*6 Se o primeiro dia da Festa dos Pães Azimos começar na noite de um Sábado como acontece no livro de Josué, então a contagem começa este dia. (Compare Josué 5:11 com Levítico 23:14). Voltar

*7 Os Rabinos afirmam, todavia, que esta data não é o Ano Novo para o povo Judeu, porém o Ano Novo para o mundo. Sendo que alguns argumentam que este é o dia no qual foi criado o mundo. Contudo, isto não tem uma base no Tanach.

*8 A raiz Hebraica ע רו é usada, certamente, em relação com um Shofar em Levítico 25:9. 

*9 Clamar a Deus em oração aparece expressado em outros lugares do Tanach tais como: “Povos todos, batei palmas, aclamai (da raiz רוע) a Deus com voz de júbilo!” (Salmos 47:1), aqui foi usada a mesma raiz do verbo que na palavra “Teruah”. Além disto, a raiz verbal de Teruah também é usada para descrever o som forte (da raizע רו) dos címbalos: “Louvai-o com címbalos ressoantes! Louvai-o com címbalos de júbilo (da raizע רו))! (Salmo 150:5).

*10 A raiz do verbo com a qual foi composta a palavra Teruah não foi usado aqui. 

 

 

 


FONTE:Adaptado de http://karaitebook.webnode.com.br/capitulo-10/

Importante lembrar que nos não temos divergências com os Caraitas atuais a não ser no que diz respeito ao levarmos a serio nossa historia como descendentes dos judeus que foram forçados a se converterem ao cristianismo e que os mesmos devem retornar como filhos de Israel.

 

Barukh HaYah.

 

CONGREGAÇÃO ISRAELITA SEFARAD BNEI MIKRÁ

 




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